domingo, 13 de fevereiro de 2011

A primavera

Para mim não importava. Eu havia aprendido que o amor não carece de presença para existir. Eu passei a minha vida inteira distante do homem amado, e agora, tê-lo assim, tão perto, tão ao alcance dos olhos, já era demais para mim.
Conversávamos horas e horas. Quase nunca tocávamos nos motivos dos nossos sofrimentos. Era uma forma de preservar-lhes a sacralidade. Certa feita, enquanto estendia as mãos para lhe entregar um copo de leite, ele olhou-me com ternura e disse que já poderia morrer feliz. E assim foi.
Quando a primavera cedeu lugar aos calores do verão, Alberto se despediu de mim de forma definitiva. A tarde era bonita e ensolarada. As cigarras gritavam na alegria descompassada de sua ressurreição gloriosa. Ele estava sentado no sofá. Pediu que eu chegasse mais perto e segurasse pela última vez a sua mão. Eu o fiz.
Ele sorriu e perguntou: _ Quer que eu dê algum recado a Deus?
Eu o olhei e com lágrimas nos olhos lhe disse: _ Sim. Diga a Ele que Ele é injusto!
Sorrindo ainda mais, do mesmo jeito que me sorriu tantas vezes naquelas tardes de nossa única primavera, ele completou: _ Não. Ele não é injusto. Ele me permitiu vir morrer ao seu lado!
E foi então que Alberto se despediu de mim com uma frase que ainda hoje não aprendi a esquecer.
Olhou-me com profundidade e disse: _ Uma vida inteira sem flores não é nada diante de uma única primavera florida!
Depois, foi perdendo o sorriso, apertou minha mão, suspirou e morreu.

Melo, Fábio de. Mulheres de Aço e de Flores, ed.Gente, 2008. p.39-40
 Estava conversando com um amigo pela internet e lhe contei esta história, não soube lhe afirmar se era verídica, muito menos onde tinha lido.
É claro que não me contentei enquanto não encontrei de onde tinha tirado tal história.rss Tinha quase certeza que estava em alguns dos meus livros, e de cara fui procurar neste livro do Fábio de Melo, lembro que quando li, muitas histórias me tocaram, ficando na minha memória, inclusive já postei sobre uma outra aqui.
Esta história é sobre uma mulher que viveu naquela época em que o pai escolhia o marido para as filhas. No dia que conheceria seu futuro marido, ela conhece também seu irmão mais novo, Alberto. Desde o primeiro instante que o viu, ela percebe que ele "era seu grande e verdadeiro amor", e percebe também que o sentimento é recíproco. Mas como a "coragem não veio" (são palavras dela) ela se casa, o irmão mais novo vai embora com um tio. Anos mais tarde, Alberto fica com tuberculose e volta para a casa do único irmão para receber os cuidados necessários.
O final da história está descrito acima.
Eu desabafando...  Só não consigo entender como pessoas conseguem reprimir um amor, um amor que muitas vezes está gritando por dentro. Para que ser infeliz, uma vida inteira? Ninguém nunca nos disse que nunca iremos sofrer, só acho que podemos escolher se queremos sofrer por pouco tempo, por muito tempo, ou pela vida inteira. Eu digo por experiência própria, sofri muito, mas por um determinado tempo. Meu conselho: _ Ser feliz ou não, depende só de você!
Caso alguém se interesse, aqui entrevista com Padre Fábio de Melo sobre o livro, assim podem concluir se são somente contos ou histórias verídicas.

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