Para mim não
importava. Eu havia aprendido que o amor não carece de presença para existir.
Eu passei a minha vida inteira distante do homem amado, e agora, tê-lo assim,
tão perto, tão ao alcance dos olhos, já era demais para mim.
Conversávamos
horas e horas. Quase nunca tocávamos nos motivos dos nossos sofrimentos. Era
uma forma de preservar-lhes a sacralidade. Certa feita, enquanto estendia as
mãos para lhe entregar um copo de leite, ele olhou-me com ternura e disse que
já poderia morrer feliz. E assim foi.
Quando a
primavera cedeu lugar aos calores do verão, Alberto se despediu de mim de forma
definitiva. A tarde era bonita e ensolarada. As cigarras gritavam na alegria
descompassada de sua ressurreição gloriosa. Ele estava sentado no sofá. Pediu
que eu chegasse mais perto e segurasse pela última vez a sua mão. Eu o fiz.
Ele sorriu e
perguntou: _ Quer que eu dê algum recado a Deus?
Eu o olhei e com
lágrimas nos olhos lhe disse: _ Sim. Diga a Ele que Ele é injusto!
Sorrindo ainda
mais, do mesmo jeito que me sorriu tantas vezes naquelas tardes de nossa única
primavera, ele completou: _ Não. Ele não é injusto. Ele me permitiu vir morrer
ao seu lado!
E foi então que
Alberto se despediu de mim com uma frase que ainda hoje não aprendi a esquecer.
Olhou-me com
profundidade e disse: _ Uma vida inteira
sem flores não é nada diante de uma única primavera florida!
Depois, foi
perdendo o sorriso, apertou minha mão, suspirou e morreu.
Melo, Fábio de. Mulheres de Aço e de Flores, ed.Gente, 2008. p.39-40
É claro que não
me contentei enquanto não encontrei de onde tinha tirado tal história.rss Tinha
quase certeza que estava em alguns dos meus livros, e de cara fui procurar
neste livro do Fábio de Melo, lembro que quando li, muitas histórias me
tocaram, ficando na minha memória, inclusive já postei sobre uma outra aqui.
Esta história é
sobre uma mulher que viveu naquela época em que o pai escolhia o marido para as
filhas. No dia que conheceria seu futuro marido, ela conhece também seu irmão
mais novo, Alberto. Desde o primeiro instante que o viu, ela percebe que ele
"era seu grande e verdadeiro amor", e percebe também que o sentimento
é recíproco. Mas como a "coragem não veio" (são palavras dela) ela se
casa, o irmão mais novo vai embora com um tio. Anos mais tarde, Alberto fica
com tuberculose e volta para a casa do único irmão para receber os cuidados
necessários.
O final da história
está descrito acima.
Eu desabafando... Só não consigo entender como pessoas
conseguem reprimir um amor, um amor que muitas vezes está gritando por dentro.
Para que ser infeliz, uma vida inteira? Ninguém nunca nos disse que nunca
iremos sofrer, só acho que podemos escolher se queremos sofrer por pouco tempo,
por muito tempo, ou pela vida inteira. Eu digo por experiência própria, sofri
muito, mas por um determinado tempo. Meu conselho: _ Ser feliz ou não, depende
só de você!
Caso alguém se
interesse, aqui entrevista com Padre Fábio de Melo sobre o livro, assim podem
concluir se são somente contos ou histórias verídicas.
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