domingo, 7 de junho de 2015

Visitas ao Sr.Olympio

Fiquei (e estou) muito triste.
Hoje fui visitar o Sr. Olympio na clínica.
Ele estava deitado, acordado, e quieto.
Não falou nada, por mais que a gente perguntasse algo para ele.
Lá eles não amarram o braço dele, como faziam no hospital. Eles enrolam faixas na mão, que fica parecendo uma bola. Não sei o que é pior.
Fiquei com o coração partido de vê-lo naquela situação. Eu acho uma ironia do destino. Ele vivia em prol da casa. Lembro de quando eu o conheci, há quase quatro anos. Ele me mostrou a casa, os armários. Sua casa era o seu maior orgulho. E hoje...
Hoje ele está lá, em uma clínica, convivendo com várias pessoas, desconhecidas.
Ele não conseguir mais se alimentar, para mim, é outra ironia do destino.
O Sr.Olympio comia bem. Tomava leite com café e um pão, todas as manhãs.
Almoçava bem. Comia frutas, saladas, carnes. Ele sentia prazer em se alimentar. E hoje...
Hoje ele não sente mais o sabor dos alimentos. Isso é cruel!
Confesso que hoje fiquei mal, ao ver a situação dele. Fiquei ali, olhando para ele, tentando compreender tudo isso.
Fiquei tentando imaginar o que está passando pela cabeça dele.
Apesar de ele não estar com dor física, pois o semblante não demonstra isso, fico pensando se ele está sentindo alguma dor emocional.
Se pelo menos ele falasse...

Pós-escrito de 14/06/2015:
Ontem nós levamos a D.Odete para visitar o Sr.Olympio, na clínica. Durante a semana, a Adriana mandou mensagem no grupo do WhatsApp, dizendo que a D.Odete queria ver o Sr.Olympio. Perguntou quem poderia levá-la. Como era nosso dia de ficar a tarde com ela, nos prontificamos.
Já tinha falado para o Zé que, quando ela fosse que eles ligassem na clínica avisando e, pedindo para colocarem o Sr.Olympio na cadeira. Para ela não ficar tão impressionada ao vê-lo.
Nós chegamos à clínica passava das quatro horas. O Sr.Olympio estava sentado e acordado. A D.Odete ficou chocada e por várias vezes chorava. Ele está bem magro. O cabelo comprido. As mãos continuam enroladas com gaze. Tentamos conversar um pouco com ele. Ele nos olhava, às vezes tentava falar alguma coisa. De vez em quando ele cochilava.
Ficamos ali por mais de uma hora. A D.Odete falava com ele. Tocava nele. Ficou sentada ao lado dele, mas, como ele só olhava para frente, ela sentou em frente a ele. Não sabemos se ele tem consciência de que ela estava ali. De que ela é a esposa dele.
Já estava noite quando deixamos a clínica. Deixamos o Sr.Olympio ali, sentado.  Muito triste deixar ele ali. Meu Deus... Que situação!

Pós-escrito de 20/07/2015:
Já voltamos mais duas vezes com a D.Odete para visitar o Sr.Olympio. E nas duas vezes o Rafael também foi. Na primeira vez ficamos surpresos pois ele já fica com as mãos sem nada. Ou seja, ele não puxa mais os canos. Ele estava com o cabelo cortado. Achei que ficou muito bom, mais jovial. 
Ele está mais aceso também. Conversa mais. Reconheceu a D.Odete, o Rafael, o Zé. Eu ele fala que é a Rita. Eu entendo!
É lógico que cada vez ele foca em um assunto e fica "martelando" até a gente cansar.rss
Ficamos felizes por vê-lo assim. Por incrível que pareça, a impressão que temos é que ele está "muito bem", ali. Tanto que a D.Odete e o Rafael brincavam com ele, dizendo que iriam dormir ali, com ele. E ele falava: Não. Dormir aqui pra quê? Eu durmo bem. Durmo a noite toda. Não passo frio.rss

Pós-escrito de 26/07/2015:
Hoje é o aniversário do Sr.Olympio. Ele completou 89 anos. Fomos visitá-lo. Só eu e o Zé. Pena não poder levar um bolinho. Ele adorava um bolo. Um doce.
Ele estava bem. Falamos para ele sobre o aniversário. Ele não se animou muito. Parece que ficou decepcionado quando o Zé falou quantos anos ele estava fazendo. Ele insistia que tinha 26 anos.

Pós-escrito de 09/08/2015:
Hoje é dia dos pais. Eu estou triste. Meu pai faleceu há uma semana. Inclusive hoje é a missa de 7ºdia. Fomos primeiro ao cemitério e depois passamos na clínica para visitar o Sr.Olympio.
Como estávamos meio que na correria, nem pedimos para colocarem ele sentado - na cadeira. Então, chegamos lá ele estava deitado. Mais dormindo que acordado. Cumprimentamos ele pelo dia dos pais. Ficamos pouco.

Pós-escrito de 09/10/2015:
Passaram-se dois meses. Eu não fui mais à clínica. Cada fim de semana é um compromisso. O Zé tem ido durante a semana e me fala como ele está. A notícia é sempre a mesma. Ele está cada vez mais distante - ausente.
No último Domingo (27/09) que ficamos com a D.Odete pensamos em ir, e levá-la. Mas ela não quis. Como o Rafael queria ir visitá-lo, convenci-os de irem, e eu fiquei com a D.Odete.
Hoje vi que realmente, ele definhou nesses dois meses. Sei que ele teve que tomar antibióticos. Por causa da tosse. Depois por causa da urina, tanto que teve que trocar a sonda.
Eu conversei com ele, mas ele não responde mais. Eu não sei dizer se ele me reconhece. Ele enxerga e escuta, isso eu garanto. Pois, ao falar, ele olhava em minha direção. As mãos dele estavam fechadas e bem enrijecidas. Massageei um pouco, abrindo-a e mexendo nos dedos. Sei lá... Acho que esse enrijecimento pode ser tensão. É o que eu acho...

Pós-escrito de 25/11/2015:
Sexta-feira, dia 20 (feriado) eu trabalhei até meio dia. O Zé foi me buscar e fomos à clínica. O senhor Olympio estava na cadeira. Acordado. Ele olha a gente entrando no quarto e todos os movimentos que fazemos. Não responde mais às nossas perguntas. Mas fica olhando. Às vezes ele se mexe, como que tentando falar algo através do movimento. O Eduardo - dono da clínica veio nos dizer que ele teve infecção de urina e pulmão. Que está tomando antibióticos e que está melhor. As mãos continuam fechadas. Consegui abrir os dedos da mão direita. Já a mão esquerda, somente três dedos. O polegar e o indicador, eu não consegui abrir. Ficamos por lá cerca de meia hora.

Pós-escrito de 07/12/2015:
Fomos ontem. Encontramos o Sr.Olympio dormindo. Ele estava de frente para a parede – de costas para a gente. Não quisemos acordá-lo. Ficamos por ali, parados, olhando-o. Fazendo nossas orações em silêncio, por ele. O Zé levou uma embalagem com 03 bolas de tênis. Como ele sabe que o pai adorava tênis, achou que (talvez) ele ficaria animado quando as visse. A intenção também era colocá-las nas mãos dele, para tentar mantê-las abertas.
O enfermeiro sugeriu que o Zé comprasse aquelas bolinhas ortopédicas, que são próprias para essa situação. E sugeriu também que o Zé comprasse um suporte para colocar na parede, com as bolinhas de tênis. Ele falou que o Sr.Olympio fica olhando para a moldura com o rosto de Jesus que está lá. Então provavelmente ficará olhando também para as bolinhas.
O Marquinhos (enfermeiro) também falou que o Sr.Olympio responde só quando é chamado de “meninão”. Diz que quando pergunta se está tudo bem. Ele responde: _Tudo.
Eu (infelizmente) nunca mais ouvi a voz dele.

Pós-escrito de 20/12/2015:
Era nosso dia de ficar com a D.Odete. Perguntei para ela se queria ir ver o sr.Olympio, e ela disse que sim. Então fomos.
Chegamos lá ele estava acordado. Na cama, mas de frente para a gente. Olhos bem apertos. Aparência boa - serena. A dona Odete perguntou quem era ela e ele respondeu. _Odete. Ele reconheceu e falou o nome do José Olímpio também. Eu nem pergunto se ele sabe quem sou eu. Sei que se ele falar, não vai ser Margô nem Margareth, então deixa pra lá.rsrs
Eu fiquei muito feliz ao vê-lo responder. Achei que nunca mais ia ouvir a voz dele.
O Zé levou as bolinhas e o Marquinhos (enfermeiro) já colocou nas mãos dele. Parece que ele gostou.

Pós-escrito de 25/12/2015:
Passamos para desejar Feliz Natal para o Sr.Olympio. De presente eu comprei um hidratante corporal - dica do Marquinho (enfermeiro) e lenços umedecidos.
Quando chegamos o Sr.Olympio estava no sofá. Mais dormindo que acordado, mas logo os enfermeiros o colocaram na cama. Ele ficou ali. Olhava quando eu perguntava alguma coisa. Mexia os lábios, mas não respondia. E é assim. Imprevisível! Tem dia que ele está falante. Tem dia que não quer papo. Ah, as bolinhas estavam nas mãos dele.

Pós-escrito de 13/08/2017:
Eu fico deixando para escrever depois sobre a nossa visita e acabo esquecendo. Desde a última vez que escrevi aqui, temos feito visitas ao Sr.Olympio ao menos uma vez por mês. Na maioria das vezes levamos a dona Odete. Alguns dias são sagrados como: aniversário dele, dia dos pais e Natal. No aniversário dele, no ano passado, eu e o Zé fomos uns dias antes. A dona Odete foi no dia, com a Simone. Disse que levaram bolo (apesar dele não poder comer). Depois desse dia teve o dia dos pais, o Natal, o aniversário desse ano.
Não lembro exatamente quando, mas mudaram ele de quarto. Agora ele fica em um quarto maior, com outros três pacientes. E por incrível que pareça, dos quatro ele é o que está melhor. É o único que não pára quieto com as pernas - vive se descobrindo. Nem com as mãos. Vira e mexe os enfermeiros precisam enrolar as mãos dele, para ele não puxar as sondas. É o único que fala algumas coisas também. O Sr. Olympio é imprevisível. Tem dia que a gente vai e volta triste porque ele está completamente ausente. Tem dia que ele está bem agitado, querendo falar e se mexendo muito.
A gente até brinca que capaz de todos nós morrermos e ele continuar lá.
Teve um dia também que levamos a irmã dele - tia Olga para visitá-lo. Ela nem chegou perto dele. Ficou perto do pé da cama. A gente nem sabe se ela entendeu bem o que está acontecendo. Depois desse dia, ela voltou mais uma vez. Quando já estávamos saindo, ela (tia Olga) chegou com a Dorinha - cuidadora dela.
Mês passado o Zé pegou uma roupa do Sr.Olympio e pediu para o Henrique levar em um Centro Espírita para saber se existe algo que "está prendendo" ele aqui na terra. O que pediram foi para orarmos por ele. E é o que temos feito. No mais, é com Deus!!
Hoje é dia dos pais. O Zé comprou um hidratante e um pacote de lenços umedecidos para o levar de presente para o Sr. Olympio. Ele estava dormindo quando chegamos. Acordava um pouco. Balbuciava alguma coisa e dormia novamente. Ultimamente é assim que o encontramos...




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