quarta-feira, 8 de março de 2017

A força da Mulher (parte 1)

Fazia frio na madrugada do dia 25 de março de 1911 no imenso prédio que abrigava a fábrica têxtil Triangle Shirtwaist, instalada no edifício Asch com vista para o parque Washington Square em Manhattan, Nova Iorque. As costureiras se encolhiam para tentar se aquecer e forçavam os olhos para enxergar seu trabalho.
As luzes de umas poucas lâmpadas de gás lançavam largas sombras pela galeria e apenas com grande esforço se enxergava algo na semi-obscuridade daquele imenso salão.
Trabalhavam duro durante todo o longo dia e, mesmo de madrugada, a produção não parava. Cerca de 500 delas, nos três andares superiores do edifício Asch, estavam nesse horário em suas máquinas de costura a pedal, costurando camisas femininas. NO ar parado, milhares de fiapos de algodão criavam uma monótona dança flutuante. A um canto chamado, chamado “Canto dos Meninos”, diversas crianças dormiam sobre montes de retalhos de pano, as mais velhas, que ainda conseguiam vencer o cansaço, cortavam os fiozinhos das blusas, amontoadas às centenas a seu redor. Ajudavam suas mães e também a espantar o sono e a fome e eram chamados de “limpadores”. Suas mães, que não tinham com quem deixar os filhos, eram obrigadas a levá-los para a fábrica, pois não podiam faltar um dia sequer sob pena de demissão. Um letreiro pregado no galpão dizia: “Se não vens no domingo, nem penses em regressar na Segunda”. O salário pago, mesmo mínimo, era necessário. Recebiam por produção. As costureiras mais hábeis, entre 4 e 5 dólares por semana, o suficiente para o aluguel de um quartinho pobre nas vizinhanças. Quase nada sobrava para a alimentação delas e dos filhos, situação da maioria ali.
Às 4:50 da manhã, o grito: “Fogo”. As largas chamas se espalharam rapidamente pelo oitavo andar, alimentadas pelos retalhos de tecido. O alerta para o nono andar demorou a chegar e aí houve o maior número de vítimas. O pânico se instalou. Não havia nada para se combater o fogo e jamais elas haviam recebido qualquer treinamento para uma emergência como esta. Enquanto algumas tentavam desesperadamente salvar os filhos, outras correram para a única escada de incêndio do lado de fora do prédio, mas a escada, muito curta, era uma armadilha. As mulheres que estavam embaixo, pressionadas pelas colegas que desciam desesperadamente, caíam sobre pontas de aço dos portões abaixo, até que toda a escada veio abaixo. Testemunhas horrorizadas disseram depois que várias mulheres, com as roupas em chamas, pulavam das marquises e janelas.
Após o incêndio, bombeiros encontraram corpos carbonizados encolhidos sobre as máquinas. Quando as chamas alcançaram suas roupas, subiram às mesas e aí morreram.
Foram encontrados montes de cadáveres espremidos próximos às portas de saída. No nono andar os capatazes haviam fechado com chave a porta que dava acesso a uma escada para que as trabalhadoras não saíssem para descansar. O saldo dessa tragédia: 147 mortos, a maioria costureiras e seus filhos. Foi o maior incêndio de Nova Iorque até as Torres Gêmeas em 11 de Setembro de 2001.
Essa tragédia não foi a origem do Dia Internacional da Mulher, mas ficou marcada como uma data de protesto contra as péssimas condições de trabalho dos operários, principalmente as mulheres dessa época, e se tornou simbólica para a luta por melhores tratamentos a todos os trabalhadores, homens e mulheres.

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