Fazia frio na madrugada do dia 25 de março de 1911 no
imenso prédio que abrigava a fábrica têxtil Triangle Shirtwaist, instalada no
edifício Asch com vista para o parque Washington Square em Manhattan, Nova
Iorque. As costureiras se encolhiam para tentar se aquecer e forçavam os olhos
para enxergar seu trabalho.
As luzes de umas poucas lâmpadas de gás lançavam
largas sombras pela galeria e apenas com grande esforço se enxergava algo na
semi-obscuridade daquele imenso salão.
Trabalhavam duro durante todo o longo dia e, mesmo de
madrugada, a produção não parava. Cerca de 500 delas, nos três andares
superiores do edifício Asch, estavam nesse horário em suas máquinas de costura
a pedal, costurando camisas femininas. NO ar parado, milhares de fiapos de
algodão criavam uma monótona dança flutuante. A um canto chamado, chamado “Canto
dos Meninos”, diversas crianças dormiam sobre montes de retalhos de pano, as
mais velhas, que ainda conseguiam vencer o cansaço, cortavam os fiozinhos das
blusas, amontoadas às centenas a seu redor. Ajudavam suas mães e também a
espantar o sono e a fome e eram chamados de “limpadores”. Suas mães, que não
tinham com quem deixar os filhos, eram obrigadas a levá-los para a fábrica,
pois não podiam faltar um dia sequer sob pena de demissão. Um letreiro pregado
no galpão dizia: “Se não vens no domingo, nem penses em regressar na Segunda”.
O salário pago, mesmo mínimo, era necessário. Recebiam por produção. As
costureiras mais hábeis, entre 4 e 5 dólares por semana, o suficiente para o
aluguel de um quartinho pobre nas vizinhanças. Quase nada sobrava para a
alimentação delas e dos filhos, situação da maioria ali.
Às 4:50 da manhã, o grito: “Fogo”. As largas chamas
se espalharam rapidamente pelo oitavo andar, alimentadas pelos retalhos de
tecido. O alerta para o nono andar demorou a chegar e aí houve o maior número
de vítimas. O pânico se instalou. Não havia nada para se combater o fogo e
jamais elas haviam recebido qualquer treinamento para uma emergência como esta.
Enquanto algumas tentavam desesperadamente salvar os filhos, outras correram
para a única escada de incêndio do lado de fora do prédio, mas a escada, muito
curta, era uma armadilha. As mulheres que estavam embaixo, pressionadas pelas
colegas que desciam desesperadamente, caíam sobre pontas de aço dos portões
abaixo, até que toda a escada veio abaixo. Testemunhas horrorizadas disseram
depois que várias mulheres, com as roupas em chamas, pulavam das marquises e
janelas.
Após o incêndio, bombeiros encontraram corpos
carbonizados encolhidos sobre as máquinas. Quando as chamas alcançaram suas
roupas, subiram às mesas e aí morreram.
Foram encontrados montes de cadáveres espremidos
próximos às portas de saída. No nono andar os capatazes haviam fechado com
chave a porta que dava acesso a uma escada para que as trabalhadoras não
saíssem para descansar. O saldo dessa tragédia: 147 mortos, a maioria
costureiras e seus filhos. Foi o maior incêndio de Nova Iorque até as Torres
Gêmeas em 11 de Setembro de 2001.
Essa tragédia não foi a origem do Dia Internacional
da Mulher, mas ficou marcada como uma data de protesto contra as péssimas
condições de trabalho dos operários, principalmente as mulheres dessa época, e
se tornou simbólica para a luta por melhores tratamentos a todos os
trabalhadores, homens e mulheres.
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